Na alvura da tua pele me perco - parte VI
Peço desculpa a quem tem vindo a seguir a história, que sei que só são três ou quatro pessoas, mas importantes para mim, pela minha demora em continuar a história.
Continuação daqui
Nos dias que se seguiram aquela reunião abolicionista, e que ficou a conhecer Maurício, as noite de sono de Alice eram muito agitas. Ela tinha que saber se Maurício era quem ela desconfiava. O irmão negro que ela perdera anos atrás.
Começou, sempre acompanhada por Flor, por aparecer algumas vezes no consultório do tio, com a desculpa, para não levantar suspeitas, por levar um bolo, ou um lanchinho para ele, já que trabalhava tanto... Sempre que encontrava Maurício este aparentava um certo nervosismo. Cumprimentava-a sempre distante e formal, mas ela via em seu olhar aquilo que ele tão cuidadosamente tentava calar.
Um dia, num final de tarde, encheu-se de coragem e saiu de casa sozinha! Algo não muito visto naquela época. Mas ela tinha que saber! E para isso tinha de sair só. Vestiu uma roupas simples, que tinha tirado do armário de Flor, e envolveu-se numa capa preta, tento o cuidado de cobrir a cabeça com o capuz da mesma. Ninguém iria reconhecê-la.
Aguardou, escondida, que Maurício saísse do consultório do tio, e, imprudentemente, segui-o. Ele ia se afastando da cidade e ela também...
Alice, depois de muito andar, começava a achar que aquilo não fora boa ideia, mas já que tinha ido até ali, continuaria. Estavam agora perto de um conjunto de casas simples de madeira, todas seguidas e pobremente cosntruídas. Quando Maurício abrandara o passo... Alice já não tinha a proteção de edifícios para se esconder, estavam praticamente em campo aberto. Ele sabia que era seguido. Mas que interessava? Era para falar com ele que se dera a este trabalho.
Já junto dele viu fixá-la nos olhos.
- Menina Alice não devia estar aqui sozinha! Principalmente a estas horas! Venha, vou acompanhá-la a casa. - o jovem estava hirto, e transparecia alguma apreensão
- Não. Não vou enquanto não me disseres a verdade. És o meu Marco, não és? - Alice fora directa ao assunto, como seu costume, e cruzou os braços qual menina a fazer uma birra.
- Desculpe?! Não sei do que fala - Respondeu numa voz trémula - O meu nome é Maurício sabe-o bem. Não conheço nenhum Marco!
-Alice leva a sua mão ao braço dele e aperta-o, força-o a olhá-la, uma vez que ele evitava-lhe o olhar - Eu sei que tens medo. Mas eu sou a tua amiga, a tua irmã de leite! Nunca te denunciaria.Preferia morrer!
- E eu preferiria morrer no seu lugar! - Dito isto, uma lágrima solta-se daqueles negros olhos e rebola por uma face com músculos contraídos.
Alice não precisou de mais nenhuma confirmação! Atirou-se nos braços do "seu Marco" e os dois liberaram anos de angústia por um destino que os separou prematuramente.
Marco segurou-a pelos ombros e afasto-a de si.
- Alice, por favor, serei sempre o Maurício, ouviste? - Estava sério e os seus olhos estavam vermelhos de chorar.
- Não te preocupes meu amigo. Nunca te poria em perigo - Disse limpando a face com as costas da mão.
- Agora vamos. Eu acompanho-te antes que alguém dê pela tua falta ou anoiteça.- Arranjarei maneira de te contar tudo, mas não nestas ruas. Aqui até as pedras da calçada têm ouvidos! Por isso, não me faças perguntas. Não agora.
Alice concordou. O mais importante do que precisava saber já o sabia. Marco não estava mais perdido para ela.
Dias depois, Marco conseguiu esgueirar-se do consultório do Tio Alberto, e sob o pretexto de buscar um livro ao escritório da casa do mesmo, conseguiu finalmente o encontro esclarecedor com Alice.
Ele e o seu pai, Justino, tinham fugido para um quilombo no meio do mato. Tinham sido bem recebidos mas o seu pai não se dera bem. Começou com febres que tanto vinham como iam. Começaram a achar que era por estar ali, fechado e rodeado de mato por todo o lado. Numa de suas melhorias resolveram, ele e mais três negros, aventurar-se até uma cidade maior. Sabiam que se preparava uma revolução e queriam estar à frente dela. A viagem foi horrível para o seu pai, já que estava fraco, e ele piorou. Conseguiram chegar à cidade mas o seu estado já não lhe permitiu aguentar muito tempo. Pouco depois faleceu.
Marco como que fora adoptado por dias negras vendedoras de legumes, que o ajudavam. Conseguiu emprego como carregador, varredor, enfim, fez de tudo um pouco. Mas o seu porte elegante, e o facto de saber ler, conseguiram o emprego junto do seu Tio Alberto, por pura sorte! Quando este foi visitar uma doente nas casas de madeira. O seu tio fazia serviço gratuito imensas vezes, e conheceu uma criança que acompanhava a mãe na venda de legumes, cuja respiração não lhe agradava, a partir daí começou a consultar a menina cujo estado casa vez inspirava mais cuidados. Essa era a casa de uma das mães adoptivas de Marco. Este vendo o tio de Alice atrapalhado com o trabalho, e como forma de pagamento, ofereceu-se para ajudá-lo e daí até à oferta de emprego foi um instante.
Alice também lhe falara sobre a sua mãe, a Dôdo, e contara como o pai dela se tornara o pior fazendeiro para os escravos.
O tempo foi passando, Alice e Maurício tinham cuidado para nunca serem vistos a conversar, muitas vezes encontravam-se nas reuniões, cada vez mais fervorosas sobre abolição e ocasionalmente o tio Alberto convidava-o para beber um licor no fim das mesmas.
Mas nada fazia esperar a notícia que espantou Alice. Flor andava feliz desde há uns dias e já todos sabiam que ela o motivo seria um jovem e não tardou até que a mãe dela, a cozinheira Anastácia , o quisesse conhecer. Beatriz oferecera-se para que o jantar fosse em sua casa. Afinal Flor era a melhor amiga da sobrinha e todos gostavam da jovem negra despachada e alegre.
Quando Flor o acompanhou até à sala Alice nem queria acreditar no que seus olhos viam. Era Marco, ou Maurício, que estava às sua frente!!!
Será que Flor sabia a verdade?
Meus incautos leitores, que um dia vos lembrastes de ler o que eu escrevo, já sabeis que não consigo abreviar histórias. Por isso, lamento, mas
continua