Sempre ao teu lado...
Custou-me a levantar, ultimamente tem sido assim, a cama exerce sobre mim um poder magnético contra o qual não possuo forças para lutar. Como tal, e já depois de banho tomado, continuo a sentir-me cansada e meia anestesiada. Ouço lá em baixo, na cozinha, o frenesim matinal, os miúdos começam novas, mas mais do que antigas, discussões do dia, e ele já depois de muita paciência esgotada manda-os calar, talvez pela enésima vez, mas como a voz saiu mais pautada, e já com um toque de irritação, surtiu efeito. Sinto a porta da entrada bater e resta o silêncio outra vez.
O silêncio é o que mais tenho ouvido nestes últimos meses, nem sei precisar quantos ao certo. Perdi a conta. Sinto que já nem os números têm importância. Visto-me lentamente, como se o futuro não existisse e o passado fosse eterno.
Ando pela casa sem saber o que fazer, apesar de ver que falta, aqui e ali, uma mão que dê um jeito à desarrumação instalada. Mas em nada toco. Pairo sobre tudo como se nada existisse…
Ele é o primeiro a chegar a casa. Eu estou no escritório a ler um livro que pousa há uns tempos na secretária sem que alguém lhe dê destino. Sinto os seus passos cansados escadas acima, caminha até ao quarto e ouço o queixume da cama indicando que ele se deixou cair nela. Vou, furtiva, espreitar… o que vejo deixou-me em plena angústia! Uma lágrima corre-lhe desenfreada pelo seu rosto por barbear. Tenho vontade de o afagar, abraçar e dizer que eu estou ali. Pedir-lhe que me deixe enxugar as suas lágrimas. Mas fico queda a observá-lo, até que a porta da entrada se abre novamente para deixar entrar os dois meninos. Parece que hoje vieram juntos da escola!
Ele seca as lágrimas e desce até à sala para se juntar às conversas que entretanto surgem. As vozes parecem distantes apesar de estarem mesmo ali ao lado. Desço também as escadas e junto-me a eles. Ouço-os a rir. Ele também ri, de forma contida, um riso que fica unicamente nos seus lábios preso a algo. Novamente surge em mim a vontade de o abraçar, e novamente algo me impede de o fazer. Para o jantar temos as sobras de ontem e improvisa-se mais alguma coisa. Os meninos põem a mesa e cada um procura o lugar onde é costume sentar-se, eu procuro o meu que está vazio! Eles evitam olhar para o meu lugar! O que fiz eu para me ignorarem assim? Acham que mereço? Sei que não ando bem e não pareço a mesma, mas isso não é motivo para se vingarem assim!
Nada digo! Não me apetece falar, muito menos discutir! Saio a correr da sala e corro para o quarto atirando com a porta atrás de mim. E choro…
Não sei quanto tempo se passou! Até que ele entra, e se deita na cama… Com a cabeça junto à minha, dividindo à almofada comigo, ouço-o dizer num suspiro
- Sinto a tua falta…
E eu percebo. Só agora percebo que ele não me ouvirá dizer que estou ali! Sempre estarei ao sei lado!