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Navegar num mar de letras

Um blogue que permitirá, aos seus autores, navegar pelas letras contando algumas histórias. E dedicado a quem ainda tem paciência para ler pessoas que gostam de andar por aí sem bússola.

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Bailarico de almas penadas

por golimix, em 08.04.15

luzes .jpg

 

A história que vos contarei a seguir foi-me transmitida pelo meu avô. Não sei qual o ano em que aconteceu a façanha que vos descreverei, talvez por volta dos anos 40 , sei é que a mesma revela que além de ser um grande contador de histórias, o meu avô era também um homem que se guiava por uma certa lógica.

 

Numa certa noite primaveril, uma senhora que contava com uns 65 anos neste mundo, e vizinha do meu avô, ao dirigir-se ao seu quarto, por volta das 10 da noite, deparou com um espetáculo de luzes na parede em frente à sua casa. O que a deixou boquiaberta, já que não podiam vir de onde ela habitava, uma vez que aí reinava a completa escuridão. Não querendo ser alarmista resolveu rezar o terço para que lhe passasse a preocupação e afastasse os pensamentos acerca de almas penadas, e achou, sem saber como, que aquilo pudesse ter sido uma coincidência. Escusado será dizer que a reza não surtiu efeito, nem para uma coisa nem para outra… coisas de um tempo em que as crendices, e os medos, do oculto nasciam nas cabeças das pessoas quase tanto como os piolhos!

 

Segue-se que ao outro dia, e nos que se seguiram a esse, mais ou menos à mesma hora, surgia novo espetáculo de luzes! Já eram muitas as pessoas, essencialmente mulheres, que se deslocavam à casa da tal senhora para rezarem desde que as luzes apareciam até que desapareciam, o que demorava cerca de 20 minutos. Já muitas eram as conjeturas acerca do que seria aquilo. E todas elas andavam à volta de almas de pessoas que tinham partido ou contra a sua vontade, o que certamente alargava imenso o leque de hipóteses, ou então aqueles que tinham deixado pendências do lado de cá. Seja como for, rezar parecia ser a solução. Mas eis que a vizinha do meu avô começou a ter medo da casa dela e preparava-se para acampar nas casas ao lado, nos seus vizinhos. Bem, nesse caso, ele achou-se na extrema necessidade de explicar o facto.

- Ó mulheres do catrino venham daí e mostrem-me lá as luzes! E lá foram todos. Ele, mais um dos vizinhos, parte interessada na solução, e uma parte considerável do mulherio da aldeia.

Às 22:00 começaram as luzes dançantes e isso continuava quer se apagassem, quer se acedessem as luzes da casa em frente. Tentou-se apagar e acender as luzes da casa o lado e isso não reproduzia qualquer efeito no “baile das almas penadas”. A mulher cada vez mais aflita achava que a casa dela estava embruxada, já que ali, na janela do quarto dela, é que se podiam ver as almas penadas e aflitas. Ainda por cima a casa em frente, onde tudo era refletido, estava abandonada! Só podiam ser os antigos donos que ali voltavam aquela hora, ou então era algo pior com certeza. “Ó minha nossa Senhora valei-me! Aqui D´el Rei que já não consigo viver, nem dormir, mais aqui!”.

 

Como ninguém queria ter por vizinhos almas penadas e ainda menos a dormir em casa alguém que tem casinha para estar, resolveu-se que “aquilo” tinha que ter solução. Tinha que ser um reflexo vindo de algum lado… mas de onde?

Verificou-se que, para aquela parede embruxada, estava virada a janela da casa do um outro vizinho, interessado também na resolução da questão. Mas ele não tinha nada acesso! O que ia ele refletir?

Mas, pelo sim, pelo não o meu avô assim começou o baile de luzes, no dia a seguir, mandou alguém ir com um saco de serapilheira tapar a janela do vizinho. As luzes foram embora! Hummm… então é algo que reflete ali, naqueles vidros e que depois é transportado para aqui. O que fez ele?


Às 22:00 horas, hora da reza, ele deu a volta por ali, mais ou menos na direção de onde ele pensava que poderia ser o início de tudo.

O que é que ele descobriu?

Naquele dia não revelou a ninguém. Pediu, no dia subsequente, que todos se sentassem, no quarto a vizinha em paniquenta. E às 22:00 começaram as luzes.

O meu avô profetizou.

- Daqui a uns poucos minutos elas vão parar!

E como de facto pararam!

- Como é que sabias? Elas falaram contigo?

- Falaram pois! Ora vão ver como vão já começar!

E lá surgiram outra vez!

-Pronto, agora vão estar a bailar até que o Joaquim acabe de pensar as vacas e desligue a luz que fica atrás da figueira dele!

- Ahhhh…..

 

Pois é minha gente. As almas penadas que dançavam na parede em frente ao quarto da vizinha do meu avô eram nada mais, nada menos, que o reflexo de uma luz, acesa atrás de uma figueira cujos ramos de moviam com a brisa, transportados para os vidros de outra janela que as transformava em luzes dançantes numa outra parede. Será importante também saber que naquele tempo as casas eram menos e mais baixas. E nada de casas vindas de Andorra, nem Suíça ou França. Eram todas dali mesmo. O que pode explicar a viagem das luzes vindas quase do fundo do povo até meio dele!


Para tudo há explicação. Basta que se queira, e saiba, procurar!

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